Filmes, séries, desenhos, animes, são vistos por alguns apenas como passatempo. No entanto, esses produtos audiovisuais vão além de meras distrações. Quando bem elaborados, podem ser utilizados como ferramentas que facilitam a transmissão de ideais. Sendo assim, faz-se necessário desmistificar pensamentos do tipo “desenho animado é coisa de criança”, tendo em vista que os animadores estão cada vez mais preocupados em criar enredos que, apesar de explorar o imaginário, o fictício, trazem assuntos de interesse social fazendo uso de uma linguagem simples e com uma dose de humor. Em Os Incríveis, lançado em 2004, é possível notar essa preocupação.
No filme, Brad Bird traz as aventuras da “família incrível”, que tem como integrantes: Roberto Pera (Sr. Incrível), Helena Pera (Mulher-Elástica), Violeta, Flecha e o Zezé. Através da família de super-heróis, ele trata da estrutura familiar, a união apesar das diferenças e dos papéis bem definidos pela sociedade dos homens e das mulheres. É fácil perceber isso, ao analisar a história e ver que, após algumas situações desastrosas, os heróis sofrem repressão social e se veem forçados a viverem como “pessoas normais”. Sendo assim, Helena passa a cuidar da casa e das crianças e Beto vai trabalhar em um escritório burocrático, atividades estas que são estipulados pela sociedade para tais figuras sociais: dona de casa e pai de família.
Quatorze anos após o lançamento do primeiro filme, surge a sequência do longa que, não só evoluiu no que diz respeito a direção de arte e efeitos visuais que se preocupou com cada detalhe, como também trouxe críticas mais assíduas, abordando a questão do feminismo e a inversão dos papéis sociais. Destaca-se a figura da Mulher-Elástica que assume o protagonismo como heroína nas mídias, enquanto que Beto tem que lhe dar com a dificuldade de Flecha e a matemática, os problemas amorosos de Violeta e os novos poderes do Zezé (melhor personagem do filme). Enquanto ela conquista as pessoas com atos heroicos, ele desempenha o papel de pai e descobre que essa tarefa é tão desafiadora quanto ser herói.
Uma outra discussão é inserida ao enredo pelo Hipnotizador, que é nada mais nada menos que o novo vilão. Trata-se de uma crítica a alienação imposta a população pelos veículos de massa que disseminam apenas informações que favorecem os interesses políticos e do sistema capitalista de uma minoria manipuladora. Tal mensagem fica implícita quando o vilão faz uso dos veículos de massa para hipnotizar as pessoas com o intuito de mostrar a população que os heróis são na verdade uma ameaça. Apesar do propósito dele não ser muito plausível, porque fundamenta-se em um sentimento muito raso que é basicamente odiar os heróis por odiar, isso não compromete a obra que está “Incrível”.
“É só mais um filme de crianças”, eles disseram. Bom, se a crianças absorverem o debate proposto por trás da animação e isso contribuir para se tornarem no futuro, adultos mais críticos e conscientes, então, mais “filmes de crianças” por favor!
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