quinta-feira, 4 de outubro de 2018

“É só mais um filme de crianças”, eles disseram

Filmes, séries, desenhos, animes, são vistos por alguns apenas como passatempo. No entanto, esses produtos audiovisuais vão além de meras distrações. Quando bem elaborados, podem ser utilizados como ferramentas que facilitam a transmissão de ideais. Sendo assim, faz-se necessário desmistificar pensamentos do tipo “desenho animado é coisa de criança”, tendo em vista que os animadores estão cada vez mais preocupados em criar enredos que, apesar de explorar o imaginário, o fictício, trazem assuntos de interesse social fazendo uso de uma linguagem simples e com uma dose de humor. Em Os Incríveis, lançado em 2004, é possível notar essa preocupação. 

No filme, Brad Bird traz as aventuras da “família incrível”, que tem como integrantes: Roberto Pera (Sr. Incrível), Helena Pera (Mulher-Elástica), Violeta, Flecha e o Zezé. Através da família de super-heróis, ele trata da estrutura familiar, a união apesar das diferenças e dos papéis bem definidos pela sociedade dos homens e das mulheres. É fácil perceber isso, ao analisar a história e ver que, após algumas situações desastrosas, os heróis sofrem repressão social e se veem forçados a viverem como “pessoas normais”. Sendo assim, Helena passa a cuidar da casa e das crianças e Beto vai trabalhar em um escritório burocrático, atividades estas que são estipulados pela sociedade para tais figuras sociais: dona de casa e pai de família. 

Quatorze anos após o lançamento do primeiro filme, surge a sequência do longa que, não só evoluiu no que diz respeito a direção de arte e efeitos visuais que se preocupou com cada detalhe, como também trouxe críticas mais assíduas, abordando a questão do feminismo e a inversão dos papéis sociais. Destaca-se a figura da Mulher-Elástica que assume o protagonismo como heroína nas mídias, enquanto que Beto tem que lhe dar com a dificuldade de Flecha e a matemática, os problemas amorosos de Violeta e os novos poderes do Zezé (melhor personagem do filme). Enquanto ela conquista as pessoas com atos heroicos, ele desempenha o papel de pai e descobre que essa tarefa é tão desafiadora quanto ser herói. 

Uma outra discussão é inserida ao enredo pelo Hipnotizador, que é nada mais nada menos que o novo vilão. Trata-se de uma crítica a alienação imposta a população pelos veículos de massa que disseminam apenas informações que favorecem os interesses políticos e do sistema capitalista de uma minoria manipuladora. Tal mensagem fica implícita quando o vilão faz uso dos veículos de massa para hipnotizar as pessoas com o intuito de mostrar a população que os heróis são na verdade uma ameaça. Apesar do propósito dele não ser muito plausível, porque fundamenta-se em um sentimento muito raso que é basicamente odiar os heróis por odiar, isso não compromete a obra que está “Incrível”. 

“É só mais um filme de crianças”, eles disseram. Bom, se a crianças absorverem o debate proposto por trás da animação e isso contribuir para se tornarem no futuro, adultos mais críticos e conscientes, então, mais “filmes de crianças” por favor! 

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